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O primeiro número da revista Travessia, publicado em 1988, tratou da temática dos "migrantes sazonais", uma das formas tradicionais da migração temporária. O termo está ainda intimamente ligado a ciclos naturais da produção agrícola nas diferentes estações do ano e percebemos que os "avanços" tecnológicosalteram progressivamente essa "dependência" da sazonalidade natural. Também o Boletim "Cá e Lá" da Pastoral do Migrante lembrou, na época, que o migrante é "que nem folha seca, que o vento leva para onde quer... migrante é que nem pomba, aonde vai tem um caçador na mira...migrante é que nem passarinho: voa de galho em galho e nunca encontra sossego; só que o passarinho canta e o migrante chora". Sabidamente as metáforas do mundo natural ajudam a insualizar, mas ao mesmo tempo, e antes de tudo, ocultam a coerção social da ditadura da economia do mercado que exige a mobilização total da força de trabalho. Sujeitadas à lei da concorrência, com todas as filigranas empíricas e diferenciações de lugares, as pessoas estão disponibilizadas para ir "ao trabalho" e "à guerra". A mobilização forçada, alicerce dos tempos modernos, está por trás de todas as particularidades de histórias de vida migrante e obriga a ir além do olhar sobre meros deslocamentos temporários entre locais de origem e de destino. [...]

Entre os textos que se encontravam sobre a mesa de reuniões da Comissão Editorial da revista Travessia, reunida no dia 30 de setembro passado para selecionar os que seriam publicados neste número, encontrava-se uma Carta Aberta. Era de Dom Frei Luiz Flávio Cappio, bispo da diocese de Barras, na Bahia, que havia iniciado uma greve de fome em protesto contra a transposição das águas do Rio São Francisco, reivindicando a revitalização do mesmo. O fato teve grande repercussão no meio religioso, político e entre os movimentos sociais. Os presentes à reunião, sensibilizados pelo gesto decidido, imediatamente expressaram a sua solidariedade. [...]

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Sem conseguir documentos, os "papéis", no exterior, sem carteira de trabalho ou sem atividade legalizada no seu próprio país, um número cada vez maior de migrantes clandestinos circula em esferas invisíveis e ocultas vagamundeando na sombra da civilização moderna. Civilização esta que cria progressivamente no seu cotidiano barbárie e violência, precariedade e privação, cinismo e desespero, levando à desintegração social e à necessidade da sua superação. [...]